sábado, 27 de maio de 2000

Como a Bíblia Chegou Até Nós?

Baseado em A Survey of Bible Doctrine, de Charles C. Ryrie.

A questão de quais livros pertencem à Bíblia é chamada de questão canônica. A palavra cânon significa régua, vara de medir, regra, e, em relação à Bíblia, refere-se à coleção de livros que passaram pelo teste de autenticidade e autoridade. Significa ainda que esses livros são nossa regra de fé e vida. Mas, como foi formada esta coleção, adequadamente chamada de Bíblia?

Os Testes de Canonicidade

Em primeiro lugar é importante lembrarmos que certos livros já eram canônicos antes de qualquer teste lhes ser aplicado. Isto é como dizer que alguns alunos são inteligentes antes mesmo de se aplicar neles qualquer prova. Os testes apenas provam aquilo que já existe.

Os diversos concílios eclesiásticos reconheceram certos livros como sendo a Palavra de Deus e, com o passar do tempo, aqueles assim reconhecidos e profundamente analisados quanto á sua coerência e autenticidade, foram colecionados para formar o que hoje chamamos Bíblia.

E que testes foram aplicados o longo dos séculos?

(1) Havia o teste da autoridade do escritor. Em relação ao Antigo Testamento, isto significava a autoridade do legislador, ou do profeta, ou do líder em Israel. No caso do Novo Testamento, o livro deveria ter sido escrito ou influenciado por um apóstolo para ser reconhecido. Em outras palavras, deveria ter a assinatura ou a aprovação de um apóstolo. Pedro, por exemplo, apoiou a Marcos, e Paulo a Lucas.

(2) Os próprios livros deveriam dar alguma prova intrínseca de seu caráter peculiar, inspirado e autorizado por Deus. Seu conteúdo deveria se demonstrar ao leitor como algo diferente de qualquer outro livro, por comunicar a revelação de Deus.

(3) O veredito das igrejas quanto à natureza canônica dos livros era importante. Na verdade, houve uma surpreendente unanimidade entre as primeiras igrejas quanto aos livros que mereciam lugar entre os inspirados. Embora seja fato que alguns livros bíblicos tenham sido recusados ou questionados por uma minoria, nenhum livro da Bíblia, cuja autenticidade tenha sido questionada por um grande número de igrejas, veio a ser aceito posteriormente como parte do cânon.

A Formação do Cânon

O cânon da Escritura estava-se formando, é claro, à medida que cada livro era escrito, e completou-se quando o último livro foi terminado. Quando falamos da "formação" do cânon estamos realmente falando do reconhecimento dos livros canônicos. Esse processo levou algum tempo. Alguns estudiosos afirmam que todos os livros do Antigo Testamento já haviam sido colecionados e reconhecidos por Esdras, no quinto século a.C. As referências nos escritos do historiador Flávio Josefo (95 A.D.) indicam a extensão do cânon do Antigo Testamento como sendo os 39 livros que conhecemos e aceitamos hoje.

Quando Jesus acusou os escribas de serem culpados da morte de todos os profetas que Deus enviara a Israel, desde Abel até Zacarias (Luc.11:51), Ele, desta forma, delimitou o que considerava ser a extensão dos livros canônicos. O relato da morte de Abel está no primeiro livro, Gênesis; o da morte de Zacarias se acha em II Crônicas, que é o último livro da disposição da Bíblia hebraica (em lugar do nosso Malaquias). Assim sendo, é como se Jesus tivesse dito: "A culpa de vocês está registrada em toda a Bíblia, de Gênesis a Malaquias". É interessante que Jesus nunca fez referência a nenhum dos livros chamados apócrifos, que já existiam em seu tempo, uma vez que os fatos neles relatados ocorreram no período intertestamentário, quase 200 anos antes de Seu nascimento.

O primeiro concílio eclesiástico a reconhecer todos os 27 livros do Novo Testamento foi o Concílio de Cartago, em 397 A.D. Alguns livros do Novo Testamento, individualmente, já haviam sido reconhecidos como canônicos muito antes disso (II Ped. 3:16; I Tim. 5:18), e a maioria deles foi aceita como canônicos no século posterior ao dos apóstolos, embora alguns como Hebreus, Tiago, II Pedro, II e III João e Judas tivessem sido debatidos durante algum tempo. A seleção do cânon sagrado foi um processo que continuou até que cada livro provasse o seu valor, passando pelos testes de canonicidade.

Os 12 livros chamados apócrifos do Antigo Testamento jamais foram aceitos pelos judeus ou por Jesus. Eles eram respeitados, mas não foram considerados como Escritura. Eles chegaram a ser incluídos na tradução grega chamada Septuaginta, produzida quase 300 anos antes de Cristo. Jerônimo (420-340 a.C) fez uma distinção entre esses livros e os canônicos, chamando-os de eclesiásticos, e essa distinção acabou por conceder-lhes uma canonicidade secundária. Os Reformadores também os rejeitaram. Em algumas versões protestantes dos séculos XVI e XVII, os apócrifos foram colocados à parte.

O Texto Bíblico que Conhecemos é Confiável?

Os manuscritos originais do Antigo Testamento e suas primeiras cópias foram escritos em pergaminho ou papiro, desde o tempo de Moisés (1450 a.C.) e até o tempo de Malaquias (400 a.C.). Até a sensacional descoberta dos Rolos do Mar Morto, em 1947, não possuíamos cópias do Antigo Testamento anteriores a 895 A.D. A razão disto acontecer era a veneração quase supersticiosa que os judeus tinham pelo texto, e que os levava a enterrar as cópias, à medida que ficavam gastas demais para uso regular.

Na verdade os tradicionalistas, ou massoretas, que acrescentaram os acentos e transcreveram a vocalização das palavras entre 600 e 950 A.D., padronizando em geral o texto do Antigo Testamento, engendraram maneiras sutis de preservar a exatidão das cópias que faziam. Verificavam cada págiina cuidadosamente, contando a letra média de cada página, livro e divisão. Devemos muito a estes religiosos detalhistas, em relação à veracidade do que hoje conhecemos. Alguém disse que qualquer coisa numerável era numerada por eles.

Quando os Manuscritos do Mar Morto foram descobertos, trouxeram à luz um texto hebraico datado do segundo século a.C., com todos os livros do Antigo Testamento, menos o de Ester. Essa descoberta foi extremamente importante, pois forneceu um instrumento muito mais antigo para verificarmos a exatidão do Texto Massorético, que se mostrou extremamente exato.

Outros instrumentos antigos de verificação do texto hebraico incluem a Septuaginta, os targuns aramaicos (paráfrases e citações do Antigo Testamento), citações em autores cristãos da antiguidade, a tradução latina de Jerônimo (a Vulgata, 400 A.D.), feita diretamente do texto hebraico corrente em sua época. Todas essas fontes nos oferecem dados que asseguram um texto extremamente exato do Antigo Testamento.

Em relação ao Novo Testamento, mais de 5.000 manuscritos dele existem ainda hoje, o que o torna o mais bem documentado dos escritos antigos. Além de existirem muitas cópias do Novo Testamento, muitas delas pertencem a uma data bem próxima à dos originais. Há aproximadamente 75 fragmentos de papiro datados desde 135 A.D., até o oitavo século, possuindo partes de 25 dos 27 livros do Novo Testamento, num total de 40% do texto total.

As muitas centenas de cópias feitas em pergaminho incluem o grande Códice Sinaítico (quarto século), o Códice Vaticano (também do quarto século) e Códice Alexandrino (quinto século). Além disso, há cerca de 2.000 lecionários (livretos de uso litúrgico que contêm porções das Escrituras), mais de 86.000 citações do Novo Testamento nos escritos dos chamados Pais da Igreja, antigas traduções como a latina ou Ítala, a siríaca e a egípcia, datadas do terceiro século, e a versão latina de Jerônimo. Todos esses dados, mais o trabalho feito pelos estudiosos da paleografia, arqueologia e crítica textual, nos asseguram possuirmos um texto exato e fidedigno do Novo Testamento.

No entanto, o que realmente nos dá a certeza de que a Bíblia contêm o pensamento inspirado por Deus a homens escolhidos para esse fim, é o poder que suas verdades possuem. É impossível ler a Bíblia com sinceridade e oração sem ser tocado pela força de suas palavras. A maneira miraculosa como essas verdades atravessaram os séculos e chegaram até nós, transformando vidas, modificando costumes, abrandando corações e trazendo conforto, felicidade e paz de espírito a quem as lê, nos dão a certeza de que Deus nos fala através de suas páginas.

Os Livros que Compõem o Cânon Sagrado

ANTIGO TESTAMENTO

Nome do Livro

Quando Foi Escrito

Quem Escreveu

Gênesis

1.450 - 1.410 a.C

Moisés

Êxodo

1.450 - 1.410 a.C

Moisés

Levítico

1.450 - 1.410 a.C

Moisés

Números

1.450 - 1.410 a.C

Moisés

Deuteronômio

1.410 a.C

Moisés

Josué

1.400 - 1.370 a.C

Josué

Juízes

1.050 - 1.000 a.C

Anônimo

Rute

1.000 a.C

Desconhecido

I Samuel

930 a.C

Samuel e outros

II Samuel

930 a.C

Samuel e outros

I Reis

550 a.C

Jeremias

II Reis

550 a.C

Jeremias

I Crônicas

450 - 425 a.C

Esdras

II Crônicas

450 - 425 a.C

Esdras

Esdras

456 - 444 a.C

Esdras

Neemias

445 - 425 a.C

Neemias

Ester

465 a.C

Incerto

Data incerta

Incerto. Talvez Moisés

Salmos

Data incerta

Daví e outros

Provérbios

950 - 700 a.C

Salomão e outros

Eclesiastes

935 a.C

Salomão

Cantares

965 a.C

Salomão

Isaías

740 - 680 a.C

Isaías

Jeremias

627 - 585 a.C

Jeremias

Lamentações

586/5 a.C

Jeremias

Ezequiel

592 - 570 a.C

Ezequiel

Daniel

537 a.C

Daniel

Oséias

710 a.C

Oséias

Joel

835 a.C

Joel

Amós

755 a.C

Amós

Obadias

586 a.C

Obadias

Jonas

760 a.C

Jonas

Miquéias

700 a.C

Miquéias

Naum

663 - 612 a.C

Naum

Habacuque

607 a.C

Habacuque

Sofonias

625 a.C

Sofonias

Ageu

520 a.C

Ageu

Zacarias

520 - 518 a.C

Zacarias

Malaquias

450 - 400 a.C

Malaquias

NOVO TESTAMENTO

Nome do Livro

Quando Foi Escrito

Quem Escreveu

Mateus

60 - 70 A.D.

Mateus

Marcos

50 - 60 A.D.

Marcos

Lucas

60 A.D.

Lucas

João

85 - 90 A.D.

João

Atos

61 A.D.

Lucas

Romanos

58 A.D.

Paulo

I Coríntios

56 A.D.

Paulo

II Coríntios

57 A.D.

Paulo

Gálatas

49 ou 55 A.D.

Paulo

Efésios

61 A.D.

Paulo

Filipenses

61 A.D.

Paulo

Colossenses

61 A.D.

Paulo

I Tessalonicenses

51 A.D.

Paulo

II Tessalonicenses

51 A.D.

Paulo

I Timóteo

63 A.D.

Paulo

II Timóteo

66 A.D.

Paulo

Tito

65 A.D.

Paulo

Filemon

61 A.D.

Paulo

Hebreus

64 - 68 A.D.

Incerto. Talvez Paulo

Tiago

45 - 50 A.D.

Tiago

I Pedro

63 A.D.

Pedro

II Pedro

66 A.D.

Pedro

I João

90 A.D.

João

II João

90 A.D.

João

III João

90 A.D.

João

Judas

70 - 80 A.D.

Judas

Apocalipse

90 A.D.

João

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